Revista Lusófona de Educação n.º 28 (2014)
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Item Literatura e conhecimento : Enciclopédia da Estória Universal, de Afonso Cruz(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Nogueira, Carlos; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoEnciclopédia da Estória Universal, que recebeu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco (Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão/APE), é o título de uma obra singular que Afonso Cruz (1971) publicou em 2009, e que iniciou uma série a que o autor juntou já dois volumes, subintitulados Recolha de Alexandria (2012) e Arquivos de Dresner (2013). O título, através do lexema “estória”, marca imediatamente o caráter especial desta “enciclopédia”, que escapa a qualquer definição única de género do discurso. Neste artigo procuraremos demonstrar de que modo o discurso literário desta Enciclopédia se alimenta de discursos (da filosofia, da história, da antropologia, etc.) que visam quer o conhecimento do ser humano e do mundo, quer a educação para a cidadania. Estes volumes, de conteúdo interdisciplinar, apelam para a curiosidade e a sensibilidade, valorizam a responsabilidade individual e coletiva, desenvolvem a capacidade de ler o mundo através de linguagens múltiplas e alternativas. Correspondendo aos princípios oficiais que regem a organização da prática pedagógica nas instituições de ensino básico, secundário e superior, esta Enciclopédia pode ser uma boa fonte de leitura e reflexão em qualquer instituição de ensino.Item A mediação na comunidade e no desenvolvimento comunitário: tendências e potencialidades(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Fragoso, António; Lucio-Villegas Ramos, Emilio; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoO conceito de comunidade pode ser visto na sua complexidade desde um ponto de vista sociológico, mas também desde um ponto de vista político e, sobretudo, educativo. Neste artigo, depois de refletirmos sobre o conceito de comunidade, apresentamos os resultados de estudo de caso realizado numa comunidade do norte do Algarve. Esta investigação foi realizada, originalmente, com o objetivo de compreender em profundidade, os processos de desenvolvimento local que ocorreram no território, a partir de 1985. Neste artigo, os resultados que apresentamos focam-se sobretudo nos fatores que provocavam o conflito e nas formas de mediação que estiveram presentes, ao longo de quase duas décadas de processos comunitários. Os nossos resultados mostram que a mediação pode ser usada como fator explicativo de muitos acontecimentos comunitários. Mostram ainda que a mediação no desenvolvimento comunitário pode ter um papel central na promoção do coletivo e na promoção de formas de cooperação comunitárias, combatendo os protagonismos individuais e a fragmentação das redes sociais locais. Concluindo, a mediação em contexto de processos comunitários de desenvolvimento deve ser planificada e usada de forma consistente.Item Narrative Matters in Intercultural Learning : contributions from Jerome Bruner(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Matos, Ana Gonçalves; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoNeste artigo argumenta-se que o texto literário, ou a ‘narrativa como forma de arte’ nos termos de Jerome Bruner (1986, p.15), pode actuar como um catalizador para a aprendizagem intercultural. Jerome Bruner, entre outros, desenvolveu conceitos que contribuem para clarificar e justificar a relação inerente entre a experiência de leitura do texto literário e a interculturalidade. O conceito de cultura de Bruner como um forum, um espaço de negociação, de interpretação, de (re)criação de significados, é muito apropriado numa perspectiva educacional informada por objectivos interculturais. A aprendizagem intercultural é um processo complexo de (re)negociação de significados e a interacção com o texto literário um contributo inestimável ao proporcionar o contacto com formas culturais inscritas num contexto. À medida que os leitores se apercebem que produtos, valores e crenças correspondem a construções sociais e culturais e que as diferenças culturais provêm dos diferentes modos como diferentes culturas representam a realidade, tornam-se intérpretes e leitores mais competentes do mundo fascinante e problemático em que vivemos. A nossa sociedade é marcadamente heterogénea. Quanto mais consciente o leitor estiver do facto de que as suas acções são influenciadas culturalmente, mais eficazmente poderá assumi-las ou contestá-las. O valor do texto literário nesta perspectiva, baseia-se, essencialmente, na contribuição para a apreciação da diversidade e consciencialização de que as realidades são construídas e a interpretação e a negociação ferramentas que usamos para mediar a relação com os outros.Item Políticas do Ensino Superior em Portugal na fase pós-Bolonha : implicações no desenvolvimento do currículo e das exigências ao exercício docente(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Carlinda, Leite; Kátia, Ramos; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoO Ensino Superior, desde o final do século XX, tem sido objeto de reformas advindas de políticas internacionais (Robertson, 2009; Lima, 2012b) com efeitos, nomeadamente na organização dos cursos e nos processos de desenvolvimento curricular. Estes processos exigem modos de trabalho pedagógico docente onde os estudantes sejam considerados sujeitos ativos do ensino-aprendizagem-avaliação (Zabalza, 2011; Luke, 2011). No quadro desta problemática, este artigo dá conta de um estudo realizado na Universidade do Porto (U.Porto) que teve como objetivo analisar implicações de políticas decorrentes do Processo de Bolonha (PB) na organização e no desenvolvimento do currículo e nos efeitos gerados no exercício da docência. Partindo de conceções de currículo que suportam políticas de ensino superior em Portugal na fase pós-Bolonha (Leite & Fernandes, 2011), o estudo, na sua componente empírica, recolhe dados, através de um questionário com duas perguntas fechadas e uma aberta, a docentes da U.Porto. A análise desses dados, realizada por uma estatística simples (perguntas fechadas) e por análise de conteúdo (Krippenendorf, 2003) dos discursos enunciados (pergunta aberta), aponta para a existência de tensões paradigmáticas que refletem dilemas, decorrentes do ideário que acompanhou o PB e as condições existentes para a (re)configuração da organização e do desenvolvimento do currículo, na concretização de um modo de trabalho pedagógico de orientação crítica.Item Em busca da Liberdade nas universidades : para que serve a investigação em Educação?(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Nóvoa, António; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoDepois de sete anos, de grande intensidade, como Reitor da Universidade de Lisboa, passei o último ano no Brasil. Foi uma experiência extraordinária. Pude viver, in loco, a realidade de outro país, de outro continente, e tomar consciência de como são semelhantes as questões que nos afectam, de um e do outro lado do Atlântico, em todos os lugares do mundo.Item Ateliês de formação e universidade : a voz dos orientadores pedagógicos(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Neves, Rui; Machado, Jane; Rangel, Mary; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoEste artigo configura-se como recorte de uma pesquisa mais alargada vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense, Brasil, e à Universidade de Aveiro, Portugal, tendo como objetivo identificar as contribuições da universidade nos ateliês de formação continuada e em serviço de professores a partir dos sentidos atribuídos pelos orientadores pedagógicos a essas contribuições. Adotou-se uma investigação qualitativa, apoiada na análise de conteúdo a partir das alocuções dos orientadores pedagógicos da rede municipal de ensino de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, sobre o tema. Os dados apresentados confirmam o potencial da inserção da universidade nos ateliês de formação segundo uma perspectiva de troca de conhecimentos, saberes e experiências entre a universidade e a escola em que ambas as instituições se fortalecem.Item Verbo-visualidades e teatralidades em diálogo : produção de sentidos para o conhecimento em arte e a partir da arte(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Gonçalves, Jean Carlos; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoO objetivo desse trabalho, desenvolvido como projeto de pós-doutorado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Brasil é analisar a produção de sentidos sobre a prática teatral universitária sob a ótica da dimensão verbo-visual. O corpus é composto por protocolos de aula produzidos por alunos da disciplina Jogo Teatral e Improvisação I (2012/I), que integra a Graduação em Produção Cênica, da Universidade Federal do Paraná/Brasil. A partir da Análise Dialógica do Discurso (Bakhtin e o Círculo), para a qual a noção de enunciado deve ser transportada para além da textualidade escrita, abrangendo outros campos da comunicação, a pesquisa põe os estudos teatrais em diálogo com as artes visuais, no trabalho entre a dimensão verbo-visual e a produção de sentidos sobre teatro no contexto de educação. Os protocolos verbo-visuais escolhidos para discussão nesse artigo, permitem um olhar para a aula de teatro como um espaço de diferentes sentidos para o conhecimento, que vão desde o científico, o teórico e o escolar até o conhecimento do sujeito sobre si e seus pares ao vivenciar a prática artística no espaço universitário. Um conhecimento que surge por teatralidades e pode ser analisado a partir de verbo-visualidades. Conhecimento em arte e a partir da arte.Item Motivação para a Aprendizagem Escolar : adaptação de um Instrumento de Avaliação para o Contexto Português(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Imaginário, Susana; Jesus, Saul Neves de; Morais, Fátima; Fernandes, Catarina; Santos, Rita; Santos, Joana; Azevedo, Ivete; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoEstar motivado para a aprendizagem escolar é fundamental para que os alunos obtenham bons resultados académicos e para assegurar uma diminuição das taxas de indisciplina e de abandono escolar. Através de uma revisão da literatura procuramos identificar os instrumentos existentes que avaliem este construto e que se encontrem validados para português. Siqueira e Wechsler (2006) desenvolveram a “Escala de Motivação para a Aprendizagem Escolar”, um instrumento utilizado na população estudantil brasileira, mas que apresenta alguns fatores com baixos indicadores de consistência interna. Neste estudo procuramos adaptar esta escala para o contexto português recorrendo a uma amostra de 791 alunos de diferentes níveis de ensino. Obtivemos uma medida unidimensional constituída por 14 itens, com um coeficiente alfa de .820 e uma correlação teste-reteste de .602, constituindo-se como um bom instrumento para avaliar este conceito e ultrapassando os problemas encontrados no estudo realizado no Brasil.Item Da deficiência mental à dificuldade intelectual e desenvolvimental(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Silva, Maria Odete Emygdio da; Coelho, Fernanda Maria da Silva; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoNeste artigo apresenta-se a evolução conceptual de deficiência mental ou défice cognitivo até recentemente, quando o conceito de dificuldade intelectual e desenvolvimental (DID) começou a ser utilizado em substituição daqueles, num acertar de passo com as reflexões produzidas sobre esta problemática, que evidenciaram a conotação negativa e pejorativa do termo deficiência. Na escola, o conceito que agora se pretende generalizar implica também uma mudança de paradigma no atendimento a crianças e jovens que apresentam tais dificuldades, uma vez que aponta para que o mesmo deixe de ser feito com base no grau de deficiência atribuído para passar a basear-se nos apoios efetivamente necessários.Item «Des faits, des faits, des faits!» : à propos du gouvernement par les chiffres et autres données probantes (dans l'éducation et ailleurs)(Edições Universitárias Lusófonas, 2014) Bruno, Isabelle; Faculdade de Ciências Sociais, Educação e AdministraçãoIl en va à l’école utilitariste de Mr Thomas Gradgrind (personnage de C. Dickens dans les Temps difficiles, 1854) comme au sein des appareils d’État, organisations internationales, think tanks et autres réseaux d’experts contemporains, à qui est confiée la tâche de penser les politiques d’enseignement: seuls semblent compter les «faits» érigés en cibles, repères et aiguillons des pratiques éducatives comme de l’action publique en la matière. Aux yeux des gouvernants de tout niveau, «il n’y a pas de performance, il n’y a que des preuves de performance». En matière d’éducation comme ailleurs, il faut montrer que des résultats positifs sont enregistrés ou attendus. Il faut le montrer en administrant la preuve de son efficacité, que ce soit par voie comparative, expérimentale ou statistique. D’où une intense activité documentaire qui alimente la «bureaucratisation néolibérale » observable dans toutes les formes d’organisation. C’est à cet art de gouverner par les «faits» que cet article est consacré. Plus précisément, il se propose de revisiter la question classique du gouvernement rationnel à la lumière de la prolifération actuelle de technologies évaluatives visant à produire des «données probantes», qu’ils s’agissent de chiffres statistiques, de résultats expérimentaux, de données comparatives telles que les benchmarks ou les «bonnes pratiques». Une telle question soulève en creux le problème des possibles et de leur objectivation comme ressources de résistance. Elle nous offre l’opportunité d’articuler «le possible de la théorie et le possible de la pratique» et, par là, de conjurer les démons bureaucratiques de Mr Gradgrind obnubilé par les faits et les chiffres. Tanto para a escola utilitária do senhor Thomas Gradgrind (personagem de C. Dickens em Tempos Difíceis, 1854) como para o seio do aparelho de Estado, organizações internacionais, grupos de reflexão e outras redes de peritos contemporâneos, a quem é confiada a tarefa de pensar as políticas de educação: só parecem contar os ‘factos’ erguidos em alvos, indicadores e marcos das práticas educativas como da acção pública nesta matéria. Aos olhos dos governantes de qualquer nível, “não há performance , não há senão provas de performance”. Em matéria de educação como em outros domínios é preciso mostrar quais as evidências dos resultados positivos ou os resultados positivos esperados. É preciso demonstrá-los evidenciando a prova da sua eficácia, quer seja por meios comparativos, experimentais ou estatísticos. Donde resulta uma intensa actividade documental que alimenta a “burocratização neoliberal” observável em todas as formas de organização. É a esta arte de governar os ‘factos’ que este artigo é dedicado. Mais precisamente, propõe-se revisitar a questão clássica da racionalização governamental à luz da proliferação actual de tecnologias avaliativas atuais visando produzir “evidências”, quer se trate de números estatísticos, de resultados experimentais, de dados comparativos tais como os benchmarks ou as ‘boas práticas’. Esta questão levanta no seu cerne o problema das possibilidades e da sua objetivação como recursos de resistência. Dá-nos a oportunidade de articular ‘a possibilidade da teoria e a possibilidade da prática’ e, assim, afastar os demónios burocráticos do senhor Gradgrind obcecado com fatos e números.