A reconstrução do homem em Clarice Lispector
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Data
2010
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Editora
Edições Universitárias Lusófonas
Resumo
Este trabalho é o resultado de uma longa pesquisa doutoral intitulada «A odisséia de si: reconstrução do homem em Clarice Lispector». Em sua vida e obra, essa escritora usou a palavra escrita para tocar aquilo que a própria palavra não consegue revelar por completo: a condição do ser-no-mundo. Sua literatura é um mergulho profundo e introspetivo nos mistérios da linguagem e na complexidade do ser. Em suas tramas as coisas estão sempre «se fazendo». São narrativas erráticas como se estivessem em busca da origem ou dos princípios das coisas, algo que lembra a busca do elemento primário na filosofia pré-socrática. Nessa busca, a escritora ultrapassa as barreiras disciplinares da ciência, os limites da racionalização ocidental e os rigores da linguagem; depara-se com o inominável, com «a coisa em si», sem nome nem linguagem correspondente, mas que – por um estranho paradoxo – somente a linguagem pode dela falar e fazê-la compreensível. Neste artigo, faço uma reflexão sobre a linguagem e a reconstituição do sujeito na obra de Clarice Lispector, especificamente no romance A maçã no escuro porque é nele que podemos melhor perceber o homem inaugurando a odisséia de si mesmo. Martim, o protagonista, é a imagem arquetípica do homem que ao tentar se reconstruir por meio de uma nova linguagem reafirma a si e a linguagem existente. Sujeito e linguagem se fazem em dialogia. A linguagem cria o sujeito que a cria. Esse romance é considerado, aqui, um romance-núcleo, no qual o sujeito vive o problema antropológico de se refazer pela raiz, de se tornar o que é.
This work is the result of a long doctoral research entitled “The self odyssey: reconstruction of man in Clarice Lispector”. In her life and literary work she used the written word to contact what the word itself cannot fully reveal: the condition of being. Her literature is a deep dive into the depths and introspective mysteries of language and the complexity of the self. In her plots things are always “under construction”. Those erratic narratives seem to be in search of the origin or the beginning of things, what recalls the search for the primal element in pre-Socratic philosophy. In this search, the writer exceeds the disciplinary obstacles of science, the limits of western rationalization and the rigors of language; she faces the unnamable, the “thing itself”, with no corresponding name or language, but what – by means of a strange paradox – only through language can become speakable or intelligible. In this paper, I reflect upon language and the reconstruction of the self in Clarice Lispector’s works, specifically in the novel A maçã no escuro, considering that in this novel we can best see man starting his self odyssey. Martim, the protagonist, is the archetypical image of a man that, when trying to reconstruct his existence through a new language, reasserts himself and the existing language. Individual and language build themselves through a dialogic process: language creates the individual who creates language. This novel is considered here as a nucleu snovel, in which an individual lives the anthropological problem of renewing himself from the roots, of becoming what oneself really is.
This work is the result of a long doctoral research entitled “The self odyssey: reconstruction of man in Clarice Lispector”. In her life and literary work she used the written word to contact what the word itself cannot fully reveal: the condition of being. Her literature is a deep dive into the depths and introspective mysteries of language and the complexity of the self. In her plots things are always “under construction”. Those erratic narratives seem to be in search of the origin or the beginning of things, what recalls the search for the primal element in pre-Socratic philosophy. In this search, the writer exceeds the disciplinary obstacles of science, the limits of western rationalization and the rigors of language; she faces the unnamable, the “thing itself”, with no corresponding name or language, but what – by means of a strange paradox – only through language can become speakable or intelligible. In this paper, I reflect upon language and the reconstruction of the self in Clarice Lispector’s works, specifically in the novel A maçã no escuro, considering that in this novel we can best see man starting his self odyssey. Martim, the protagonist, is the archetypical image of a man that, when trying to reconstruct his existence through a new language, reasserts himself and the existing language. Individual and language build themselves through a dialogic process: language creates the individual who creates language. This novel is considered here as a nucleu snovel, in which an individual lives the anthropological problem of renewing himself from the roots, of becoming what oneself really is.
Descrição
Babilónia : Revista Lusófona de Línguas, Culturas e Tradução
Palavras-chave
LITERATURA BRASILEIRA, ANÁLISE LITERÁRIA, BRAZILIAN LITERATURE, LITERARY ANALYSIS
Citação
Fonseca , A S D S 2010 , ' A reconstrução do homem em Clarice Lispector ' , Babilónia : Revista Lusófona de Línguas, Culturas e Tradução .